domingo, 4 de abril de 2010

Clarice

Dias de sumiço, nevoeiro frio, interiorização, dias de ler Clarice, poderia ser só isso, mas primeiro tem que ler chapeuzinho vermelho pro meu filho mais novo, contar e recontar histórias, fazer sopa de letrinhas e estudar o que eu já sei.


Dias de sentir Clarice, sua profundidade, mas também são dias de brincar com eles, curtir a 7ª arte em animação, em 3 D, dias de compartilhar, esquecer de mim, um ser individual...


Estou feliz e triste, paradoxo, confusão. Gostaria de mergulhar em busca de interiorização, buscar não o que está fora e sim dentro, mas... Dirijo no automático, tem inglês do mais velho, em seguida natação, está próximo o campeonato e toda a expectativa de fazer um bom tempo... O meu está lotado de atividades que não são minhas, e eu gostaria apenas de ler Clarice, em paz.


Tem a lição de casa, e o título sugere, “conhecendo o corpo” e as perguntinhas básicas sobre as diferenças de ser menina e menino, sistema reprodutor, me esforço pra não sair do roteiro, não relativizar as diferenças, e assim acabar confundindo a cabecinha do menino, me deixe quieta... Sigo o roteiro e deixo as discussões mais polêmicas para mais tarde, quem sabe a sombra de um coqueiro numa praia paradisíaca, eu com minha hula hula e eles, rapazes inteligentes e descolados discutindo as diferenças e relativizando tudo ou quase tudo... Será que só então poderia terminar de ler Clarice de uma só vez e fôlego?


Certo dia, vi o roteiro com sugestões de autores que meu filho deveria ler, passei a vista ligeira e ansiosa pelos nomes, Lemony Snicket, Vinicius de Morais, Ganymédes José, Saint-Exupéry, Ivan Jaf, entre outros que não recordo agora, só lembro-me do desapontamento em não ver na considerável lista o nome de Clarice, quem sabe assim poderia não só ler, mas discutir com meus filhos essa autora de “sensibilidade inteligente” como ela mesma se definiu em um dos seus textos.


Mas, não posso ser intransigente e pensar só em mim, preciso agora ter a amabilidade como companheira, se não estarei sujeita ao crivo de má mãe, e esse título eu não quero ter, nesse impasse vou deixando Clarice para outras horas, talvez aquelas que antecedem o sono, mas Clarice é intensa demais pra esperar e eu acabo sempre dormindo com o livro aberto sobre meu coração ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ


Autora: Rubia

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Sou simples e disposta para as boas coisas. Amo o belo, mas a minha admiração maior é na alma. Por isso eu escrevo, e como diz Clarice... "Escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro...” Então, eu vou desabrochando a cada dia, com esperança, determinação, amor no corazón, tecendo minha vida, tal como uma linda aranha tece a sua fenomenal teia... Escrevo, sobretudo, "Porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando"... Romântica? Profunda? Complexa? Não sei, traduza-me...