Uma vez ela me confidenciou que a subjetividade a fascinava, e aquilo que não dava conta da linguagem, que decorria dos sentimentos era realmente importante, por isso, não sofria com aperreios.
Disse ter o espírito inquieto, apesar de ser serena na aparência, sabia ser igual à água corrente, corrente com os seus desejos, e desejos correntes eram esperanças em correnteza, por isso ela descia as encostas.
Ela dizia coisas sábias, porque compreendia as coisas trazidas pelo vento... Sua sina, suas rimas e impressões, nem de mais, nem de menos, na medida certa, tangia o vento e o que nele se infiltrava.
Lembro dos seus movimentos suaves, mas mesmo quando movida a vendavais, a tradução da sua essência era sedução, e ela em sedução era luz, não media nada, mas analisava os estragos, e aprendia com eles, juntava os cacos, e logo a calmaria se fazia canto e sorrisos.
Das brisas ou temporais, ela exorcizava e tecia as palavras, procurava perceber as nuanças, ouvir ruídos em muitas bocas, se perceber em muitas caras, assim, munir-se de coragem e seguir nômade do seu destino.
Às vezes ela voava rasante, outras vezes tocava as nuvens, mas não atropela ninguém, aprendeu a viver com a vida, driblava os dissabores, buscava a sabedoria e pisava descalça.
Seguia protagonista do seu contraditório mundo interno, buscando caminhos que a levasse, mas que também a trouxesse para o seu mundo de letras e melodias. Olhava tudo com o seu olhar de lua e sorria, ah como ela sorria...
O som do seu acalanto podia sair dos acordes de um violão velho e tocar qualquer coração, podia sair da fumaça entre seus dentes, numa atitude politicamente incorreta, podia sair em gargalhadas ao contar histórias cabeludas para alguma alma ingênua, podia sair do seu olhar simplesmente, verde musgo.
Ela eternizou seu pensamento: o que estava escrito e não podia ser modificado, ficava cristalizado no simbolismo das palavras, mas o que podia ser modificado depois de escrito será sempre um novo começo, um frenesi.
Autora: Rubia